quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Amar - Carlos Drummond de Andrade.



Me proteja enquanto durmo.



Que pode uma criatura senão, 
entre criaturas, amar? amar e esquecer,
amar e malamar, 
amar, desamar, amar? 
sempre, e até de olhos vidrados, amar? 

Que pode, pergunto, o ser amoroso, 
sozinho, em rotação universal, senão 
rodar também, e amar? 
amar o que o mar traz à praia, 
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, 
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia? 

Amar solenemente as palmas do deserto, 
o que é entrega ou adoração expectante, 
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro, 
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina. 

Este o nosso destino: amor sem conta, 
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, 
doação ilimitada a uma completa ingratidão, 
e na concha vazia do amor a procura medrosa, 
paciente, de mais e mais amor. 

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa 
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.




Depois de um bom tempo sem postar nada, vai aí um texto romântico para acalmar os ares 
do pós-ENEM.

Cansativo, mas estou eu aqui novamente.



Beijos ;**




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